Curva ou ciclo?

Reflexões sobre o comportamento da Covid-19 com o afrouxamento do distanciamento social

Por Fernanda C. Bortolan*

Crédito: Fernanda C. Bortolan

“Todo cuidado é pouco!” – livro de Roger Mello, tem como base um fato que puxa outro e que, puxando outro, acabam dando origem a uma roda-gigante de fatos, em que tudo está conectado de uma maneira circular. Em contraposição a essa ideia circular, a pandemia de coronavírus é apontada como uma curva, gerando uma noção de começo, meio e fim. Porém, depois do afrouxamento do isolamento social, qual será o comportamento dessa curva?

Alguns países, em sua maioria na Europa e Ásia, já apresentam suas curvas de contágio em declínio. Esse alívio com o declínio do número de mortos diários e o número de pacientes internados na UTI também traz uma preocupação: como garantir que esses números continuem assim sem que os cidadãos sejam obrigados a permanecer em casa por mais tempo?

Por ser uma doença altamente contagiosa e com a Organização Mundial da Saúde afirmando que não existe comprovação que uma pessoa que já teve a Covid-19 não possa adquiri-la novamente¹, o trabalho dos países em buscar soluções para acabar com o confinamento fica ainda mais difícil. A maioria dos países europeus pensa em começar uma reabertura gradual por fases para evitar uma nova grande onda de infecções.

Entretanto, a reabertura de locais como escolas² – o que já vem acontecendo na Alemanha e Dinamarca, e está programada para ocorrer na França a partir do dia 11 de maio – está dividindo a própria população. Na França, muitos temem que ainda não seja seguro mandar os filhos para a escola, ou que a decisão esteja sendo tomada puramente por causas econômicas³.

Em contraposição aos demais países europeus, a Suécia adotou o isolamento vertical e chegou até ser mencionada a “imunização de rebanho”, que consiste em deixar que a população que não faz parte dos grupos de risco se infecte e crie imunidade. Contudo, o governo passou a estudar um possível fechamento de creches e escolas primárias. Acredita-se que, até o dia 1º de maio, mais de um quarto da população de Estocolmo terá sido infectada⁴. Mesmo assim, o sistema de saúde sueco ainda não está perto de atingir sua capacidade máxima.

Fica claro que as divergências estruturais, econômicas e sociais entre os países, assim como a ausência de um conhecimento realmente aprofundado da doença, impedem que os países tomem medidas idênticas que garantam 100% de eficácia na segurança da população. Embora os cientistas estejam trabalhando arduamente para conseguir mais informações sobre a Covid-19 e possíveis tratamentos, ainda não existem respostas concretas do que fazer para mitigar os efeitos da pandemia.

Hoje, a dúvida reside principalmente em como fazer uma reabertura para evitar mais prejuízos econômicos, todavia, sem expor a população a riscos e a uma possível ressurgência de surtos da doença nesses países. É certo, porém, que se o processo não for bem planejado, pode acontecer de a curva virar uma roda-gigante que não permite que os passageiros desçam, girando em um looping infinito até que seja consertada. Todo cuidado é pouco.

* Aluna do segundo ano diurno do curso de Relações Internacionais na Universidade Positivo (2020).

Referências

¹https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/25/oms-alerta-para-a-incerteza-sobre-casos-de-reinfeccao.ghtml

²https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/escolas-vao-reabrir-em-ao-menos-7-paises-europeus-com-distanciamento-entre-alunos.shtml

³https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/04/24/fim-do-confinamento-retorno-as-escolas-em-11-de-maio-divide-pais-de-alunos-na-franca.ghtml

https://www.corriere.it/esteri/20_aprile_23/svezia-quarto-abitanti-stoccolma-positivo-entro-maggio-ogni-caso-certo-75-asintomatici-04ecb9ba-856f-11ea-b71d-7609e1287c32.shtml

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